sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Tributo

Meu amigo Candeeiro
Por Carlos Megale


Megale e o saudoso amigo ""

Quando eu e o Sabino Bassetti iniciamos as pesquisas para o livro LAMPIÃO: Sua morte passada a limpo, tivemos a grata satisfação de conhecer o Sr.Manoel Dantas Laoyola, o ex-cangaceiro Candeeiro, ou simplesmente “Seu Né” para os mais chegados. Pessoa agradável com quem conversamos por diversas vezes sobre o cangaço, Lampião e a tragédia de Angico. Tantas e tantas vezes o visitei em sua casa na Vila de São Domingos que nasceu entre nós, uma grande amizade.

Aprendi a admirar aquele homem simples, quase centenário, com historias de vida dignas de um Gulliver. Durante nossas longas conversas, viajei no túnel do tempo e, coloquei-me entre os cangaceiros em suas intermináveis caminhadas, entre eles quando lutavam contra as volantes policiais e sentia frio na espinha quando me via no meio do combate de Angico. Menino pobre nasceu e se criou no município de Buíque em Pernambuco, de onde partiu um dia para as terras de Alagoas e, trabalhando duramente de sol a sol no roçado para ganhar o seu sustento, conheceu em 1936, um bando de homens com vestimentas esquisitas, chapelões enormes e armas nas mãos.

O grupo do cangaceiro Virgínio vinha com uma volante policial em seu encalço, quando passou pela fazenda onde morava o jovem Manoel que não sabia que seu patrão era um coiteiro. Tomado de pânico e sem saber muito bem o que fazer ou para onde correr, acabou acompanhando aqueles homens. Passou então a se vestir e a viver como eles e, sem querer, sem um motivo aparente, virou um cangaceiro. Depois de mais de três meses na nova vida, depois de perambular pela caatinga com os cangaceiros Português e Jararaca, depois de ser ferido a bala em um tiroteio, conheceu Lampião e acabou ficando em seu grupo.

Homem sério, jamais mentia sobre os fatos que narrava,  limitando-se a contar somente aquilo que vivera ou tinha presenciado. Talvez por isso, por não compactuar com mentiras, diferente de muitos cangaceiros que durante a vida preferiram dar depoimentos distorcidos para agradarem determinados escritores, tenha muitas vezes sido ironizado e ridicularizado como “babá de cachorros”ou “fazedor de guizado”. Ele não foi nada disso e sua importância na historia do cangaço é significativa, já que foi um dos homens de confiança de Lampião.

Viveu os dois últimos anos de vida do cangaço presenciando muitos acontecimentos, narrando-os sempre com um brilho nos olhos e, sem esconder uma grande admiração pelo seu antigo chefe. Após deixar o cangaço e acertar contas com a justiça, saiu pelo mundo à procura de novos desafios, sendo soldado da borracha no norte do país e depois trabalhando como Candango na construção de Brasília, a nova Capital Federal que surgia no planalto central pelas mãos de Juscelino Kubitschek.


Carlos César de Miranda Megale.
Pesquisador e escritor do cangaço.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu caro: Ótima homenagem você fazendo ao saudoso Manoel Loyola. Homem de bem; ele merece.
Abraços,
Antonio Oliveira - Serrinha-Ba - email: antonioj.oliveira@yahoo.com.b